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Conto - Tinha uma Favela no meio do Caminho


Tinha uma Favela no Meio do Caminho


Terminado o ensino médio, um ano desempregado, Marcos finalmente consegue um trampo, e vai trabalhar numa empresa perto da sua casa.
Apesar da distância até a empresa ser de quinze minutos a pé, ele levava vinte, pois desviava da favela que tinha pelo caminho.
- Eu? Andar no meio daquela favela? Você tá é louco... _ dizia para o pessoal do trabalho, que o apoiava, lembrando o quão perigoso era o lugar.
Certa vez, atrasado para o trabalho, Marcos teve que passar pela favela. Correndo e suando frio, cada barulho era um alerta. Tenso, respiração ofegante e coração à milhão, nem olhou para os lados. São e salvo, chegou no seu trabalho com um pequeno atraso, mas já suficiente para o comentário opressor do patrão, que calhou nesse dia de estar lá logo cedo.
Após a experiência de medo e apreensão, nunca mais andou pela favela, mesmo que atrasado. Mas algo estava para acontecer.
Alguns meses depois, após a benção da mãe, Marcos foi para o trampo como todos os dias, caminhando junto aos carros. Uma rua sem calçada, um caminhão desavisado, e ele não menos, foram os ingredientes da cena. Um caminhão acerta Marcos, jogando-o para o muro, e ele cai fora de si.
Marcos só acordou dalí a dois dias, no hospital. Reconhecendo a mãe, quis saber o que acontecera. A mãe descreveu a cena e contou que uma senhora que passava pelo local é quem o acudiu, chamando a ambulância e dando o primeiro socorro. Agradecido, ele pediu para visitar a bondosa senhora.
Restabelecido, foi até o endereço indicado. Qual não foi a surpresa ao perceber que ela morava na favela perto da sua casa, aquela mesma que tantas vezes havia desviado. Com medo mas decidido, chegou na casa procurada, que apesar da falta de acabamento, era bem limpinha. Chamou a senhora, que logo apereceu e o convidou para entrar, numa simpatia só.
Descobriu que seu nome era Nice, conheceu a sua família e deparou com uma simplicidade misturada com sentimentos bons no coração que o fez chorar.
Agradeceu imensamente a ajuda e voltou para a casa feliz da vida. Durante a volta, notou o que nunca havia reparado: que a favela apesar de pobre tinha muita vida, muitos jovens sorrindo, mulheres conversando, crianças brincando e trabalhadores indo e vindo do serviço.
Acabado a dispensa médica, Marcos volta ao trabalho, conta o que ocorreu e cheio de razão emenda:
- Eu? Andar no meio daquela autovia? Você tá é louco... Eu vou pela favela mesmo!


EBNER

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